A minha vida parece ter começado quando tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida – mudar radicalmente, afastar-me das pessoas todas que tinha conhecido até então e desapegar-me a 100% delas. Começar uma nova vida.
Porém, aconteceu exatamente tudo ao contrário. Foi então que constatei que tinha tomado a pior decisão da vida.
Como podemos viver bem, longe das pessoas de que mais precisamos? Não podemos. Todos os dias as saudades crescem mais e mais e tudo à nossa volta começa a ruir. Começamos a perder as forças e as nossas fraquezas começam a vir ao de cima. Por mais que nos esforcemos, tudo corre mal. Para além disso, nos momentos de glória que possas ter, as saudades aumentam ainda mais, porque queres alguém com quem celebrar; olhas à tua volta e vês que não tens ninguém. É então que a glória vira sofrimento.
Entretanto, novas amizades começam a surgir, e dás contigo a pensar que as coisas se estão a encaixar e que a tua vida vai mudar e que, afinal, vais conseguir desapegar-te das pessoas das quais te querias afastar; o sofrimento e as saudades começam a diminuir e já tens alguém ao teu lado para comemorares as tuas vitórias, e, principalmente, alguém que te ajude a superar os teus medos e problemas.
Começas deste modo a afastar-te das pessoas, largas o telemóvel, a única maneira que tens de comunicar com as pessoas de quem sempre te quiseste afastar, e começas a viver mais o momento e as pessoas à tua volta.
Tudo vai bem na tua vida, tens amigos que gostam de ti, tens namorado, a tua vida começa a melhorar e o sol começa a brilhar cada vez mais. Cada vez estás mais certa de que o teu lugar é ali, com aquelas pessoas, e que nunca mais vais querer sair dali e esquecê-las.
As férias chegam, a saudade das pessoas que estão longe começam a aparecer e sentes-te feliz por achares que tomaste a melhor decisão. O arrependimento que existia no início começa a desaparecer e a felicidade aumenta.
No entanto, como se diz, tudo o que é bom dura pouco, e é bem verdade. A certo momento da tua vida tudo começa a ruir outra vez, vais começando a perder tudo o que conseguiste. O namorado desaparece, o sofrimento no coração é maior que a alegria que os teus amigos te conseguem transmitir, as tuas fraquezas tornam a vir ao de cima. A seguir, começas a perder os amigos que achavas que eram para a vida. E é nestes momentos que te agarras às pessoas que tu supostamente querias esquecer, porque sabes que mesmo estando longe te vão apoiar como mais ninguém e mesmo depois das asneiras todas que fizeste, elas nunca vão deixar de te apoiar.
Por tudo isto, mete uma coisa na cabeça: estamos numa sociedade do “descartável”, do usa e deita for, em que as amizades “novas” e que julgamos verdadeiras, na verdade, rapidamente se revelam superficiais e até interesseiras. O tempo depressa se encarrega de pôr isso a descoberto. Não perduram nem nos ajudam quando surgem problemas e obstáculos.
Quando perdes esses “novos” amigos, quem te apoia? Isso mesmo, as pessoas que estão longe, no tempo e quantas vezes no espaço, pessoas por quem tu reconheceste o que é o amor, a amizade, gratuita e enorme, e sem as quais já não consegues viver, pois sabes que, acima de tudo, elas são os teus verdadeiros amigos. Assim, é no meio destas perdas aparentes que ganhas aquilo que mais importa, ou seja, consegues ver finalmente que uma amizade verdadeira nem a distância nem o tempo separam, pois são estas as pessoas que sempre te apoiaram ao longo do tempo e em todas as ocasiões.
Ana Rua, 2.ºF
