COM CINCO LETRAS DE SANGUE
De súbito três tiros na memória.
Apagaram-se as luzes. Noite. Noite.
De súbito três tiros nas palavras
um poeta calou-se apagou-se a canção.
Com cinco letras do seu próprio sangue.
Apagaram-se as luzes. Noite. Noite.
De súbito três tiros nas palavras
um poeta calou-se apagou-se a canção.
De súbito um poema foi bombardeado
um poeta fechou-se nas vogais
cercado por consoantes que talvez
caminhassem cantando para um verso.
Eram granadas? Eram sílabas de fogo?
E de súbito a guerra. Noite. Noite. E um poeta
com cinco letras escreveu no chão:
Com cinco letras do seu próprio sangue.
Manuel Alegre